sábado, 15 de setembro de 2012

UM CORPO ESTENDIDO NO CHÃO




Barulho ensurdecedor, correria, gente se amontoando, fotógrafos, emissoras de TV. É sempre assim quando se trata de alguma tragédia. A curiosidade, ou talvez o prazer que as pessoas têm em ver acidentes ou algum corpo estendido no chão levam a esta situação. Todos arriscavam palpites. Foi queima de arquivos, dívida de drogas, vingança. Ninguém sabia de nada. Alguns chegavam ao extremo ao dizer, por ser negro e morador do morro, coisa boa não devia ser.
O fato é que já cheirava mal, e até àquela hora as autoridades competentes não tinham tomado as devidas providências, ou seja, recolher o corpo. Não havia documentos ou algo que comprovasse a identidade do defunto. Não era de mau aspecto, tinha lá sua beleza. Talvez uns trinta anos, talvez casado, quem sabe?
De repente, no meio do tumulto alguém gritou:
- Não pode ser! Não pode ser! É meu amigo João Gostoso.
Quem seria esse tal de João Gostoso? Todos queriam ouvir o desconhecido. Ele então esclareceu os fatos.
João era seu grande amigo, morador do morro da Babilônia. Amante do carnaval e da alegria. Trazia o samba no pé e no coração, era gente da gente. O narrador desconhecido cheio de emoção e lágrimas encerrou o comentário dizendo:
- É pena que alegria de pobre dura pouco, pois João emocionado por ter passado no vestibular da UERJ em primeiro lugar, bebeu, cantou e dançou, e dançou literalmente. Pulou de tanta alegria na Lagoa Rodrigo de Freitas e cometeu um único erro, esqueceu-se de que não sabia nadar.

Crônica extraída do poema de Manuel Bandeira “Noticia de jornal”

José Geraldo da Silva



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