Barulho ensurdecedor,
correria, gente se amontoando, fotógrafos, emissoras de TV. É sempre assim
quando se trata de alguma tragédia. A curiosidade, ou talvez o prazer que as
pessoas têm em ver acidentes ou algum corpo estendido no chão levam a esta
situação. Todos arriscavam palpites. Foi queima de arquivos, dívida de drogas,
vingança. Ninguém sabia de nada. Alguns chegavam ao extremo ao dizer, por ser
negro e morador do morro, coisa boa não devia ser.
O fato é que já cheirava mal,
e até àquela hora as autoridades competentes não tinham tomado as devidas
providências, ou seja, recolher o corpo. Não havia documentos ou algo que
comprovasse a identidade do defunto. Não era de mau aspecto, tinha lá sua
beleza. Talvez uns trinta anos, talvez casado, quem sabe?
De repente, no meio do
tumulto alguém gritou:
- Não pode ser! Não pode
ser! É meu amigo João Gostoso.
Quem seria esse tal de
João Gostoso? Todos queriam ouvir o desconhecido. Ele então esclareceu os
fatos.
João era seu grande amigo,
morador do morro da Babilônia. Amante do carnaval e da alegria. Trazia o samba
no pé e no coração, era gente da gente. O narrador desconhecido cheio de emoção
e lágrimas encerrou o comentário dizendo:
- É pena que alegria de
pobre dura pouco, pois João emocionado por ter passado no vestibular da UERJ em
primeiro lugar, bebeu, cantou e dançou, e dançou literalmente. Pulou de tanta
alegria na Lagoa Rodrigo de Freitas e cometeu um único erro, esqueceu-se de que
não sabia nadar.
Crônica extraída do poema de Manuel
Bandeira “Noticia de jornal”
José
Geraldo da Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário