sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O GRITO

Há um grito que ecoa no ar
Grito que não quer a lembrança apagar
Grito das crianças esqueléticas a suplicar,
a gemer, a implorar na escuridão dos porões,
tentando apenas tocar com a boca faminta
um pouco de vida sugar.
Grito das mães que se tornaram cisternas rotas
e os seus filhos não podem alimentar.
Grito que sai das entranhas
que rasga a garganta sem força
para que alguém possa escutar.
Grito das meninas sonhadoras
que viram seus sonhos acabar,
pois seus castelos foram invadidos
e roubadas foram as joias da inocência.
Grito dos meninos que no mundo
foram esquecidos, que conheceram
o som do chicote e da brutal violência.
Ah! O grito ecoa no ar.
Ele vem dos porões infames
das naus que levam a alegria, a liberdade
e a nobreza dos guerreiros da Mãe África.
Ele vem dos troncos banhados de sangue.
Da carne dilacerada pelos açoites
que rompem a madrugada
e que causaria inveja ao maior dos inquisidores.
Ah! O grito não quer calar.
Não cala, pois ainda não há consciência.
Ainda não cessaram os açoites,
os vilipêndios e vitupérios.
Não são mais os chicotes e as chibatas
que causam a dor.
Agora é uma arma cruel
que causa dissabor.
Arma que é negada, camuflada,
mas que é usada e professada pelas bocas
daqueles que ainda não têm consciência
de que o grito ainda ecoa no ar.
Grito que ecoou nos Palmares
e que subiu aos ares e que o tempo
não pôde abafar.
Hoje se maltrata no tronco da ignorância,
nos porões da insensatez.
Negando aos filhos da terra
o direito de se ter direito.
O direito de ser, mesmo com a cor diferente,
de ser gente da gente.
O grito está no ar para acabar
com o discurso de quem DIZ
que não há CRIME e NEM AÇÃO
contra os direitos de ser diferente
com tantas diferenças em nossa formação.
Ah! Quando não houver discriminação
o grito será apenas para lembrar
que vivemos uma grande nação.

José Geraldo da Silva




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