Plantada junto ao ribeiro
Sou filha do amor do vento
Que beijou minha mãe
E levou na boca a pura semente
E num ato de amor fecundou
O ventre da mãe terra
Cresci contemplando as águas
Límpidas e espelhantes do ribeirão
Sentindo a brisa tocar meu corpo
Com beijos afagantes
Juras de amor foram feitas
Por casais amantes
Tatuaram em meu peito um coração
Eternizaram os minutos sob a minha proteção
Molharam minhas mãos
Com as lágrimas da despedida
Hoje, porém já não contemplo o ribeirão
Assassinado pela ignorância
No seu espelho não vejo mais o meu rosto
Já não sinto mais sua fragrância
Em meio a tanta destruição
Os casais amantes
Não são mais amantes
Não precisam da minha sombra
Nem da minha cumplicidade
O meu corpo está mirrado
Torturado e desprezado
Aguardando apenas o carrasco
Cumprir minha sentença infame
Decretada pela próspera civilização
Meu último suspiro arrancar
Este é o fim de um retrato de amor
Transformado num cenário de horror.
José Geraldo da Silva
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