O ensino de Língua
Portuguesa no país passou por várias fases até chegar ao que se observa hoje.
Sabe-se que essa trajetória foi complexa, pois a história mostra que até o
decreto do Marques de Pombal, se falava no Brasil a língua geral que era a
mistura do português com as línguas indígenas. É a partir daí que se começa o
ensino da Língua Portuguesa efetivamente.
Mas é no século
dezenove com a vinda da família real que as coisas realmente começam a mudar.
Com a criação de cursos superiores e a fundação de órgãos de imprensa, a língua
portuguesa se firma no território brasileiro, porém o seu ensino ainda é
relegado ao segundo plano porque se valoriza o ensino das chamadas línguas clássicas.
Com a fundação do colégio Pedro II,
que foi o padrão de ensino por aqui, que o ensino da língua materna passou a
evoluir, porém ainda observada como caráter propedêutico, ou seja, a preparação
para o ingresso nos cursos superiores. Até o século XX era assim que era
encarado o ensino de português. É a partir da década de 40 que as coisas
realmente se alicerçam, pois a literatura nacional passa a fazer parte da grade
curricular.
O que é importante de
se observar que mesmo sendo efetivado na grade curricular como disciplina
obrigatória o ensino de português privilegia o estudo das antologias nacionais
como base para o ensino da gramática, baseada nos clássicos da Literatura
Portuguesa. No ensino da língua predominava o estudo da gramática e dos padrões
normativos, não se trabalhava a produção de textos como produtos
sociocomunicativos e sim, apenas como o texto bem escrito de acordo com a norma
prescritiva padrão, esta ditada pelos clássicos.
Por muito tempo o
ensino da língua esteve atrelado ao estudo da gramática, conhecê-la era
fundamental par o ingresso nas universidades. Nas avaliações e exames eram
cobrados os conhecimentos gramaticais. Os alunos a estudavam trabalhando com
frases soltas e descontextualizadas. A produção de texto para ser considerada
ideal, precisava estar bem estruturada sintaticamente e de acordo com as regras
de ortografia. Foi assim por muito tempo o ensino de português.
A partir da década de
oitenta com as contribuições da sociolinguística as coisas começaram a mudar,
pois o texto como produto de comunicação passou a ser evidenciado nas praticas
de ensino da língua. Já nos anos noventa, o trabalho com os gêneros do discurso
começam a tomar consistência, e há uma significante mudança na forma de se
trabalhar as aulas de português. Os PCNs de Língua Portuguesa priorizam o
trabalho com textos em sala de aula, e com isso a necessidade de se trabalhar
os gêneros discursivos e textuais.
Hoje de acordo com o
currículo do Estado de São Paulo é necessário saber lidar com os textos nas diversas
situações de interação social. Essa mesma proposta declara que o nível de
letramento é determinado pela variedade de gêneros textuais que criança ou o
adulto reconhecem. Então o texto passa a ser o foco de atenção no ensino de
português. Neste novo conceito de se trabalhar a língua não se concebe
trabalhar a literatura de maneira estanque, apenas do ponto de vista histórico
e de autores consagrados, mas sim, língua e literatura integradas numa mesma
prática, que valoriza o aspecto social e comunicativo do texto.
Portanto, as práticas
de ensino do passado deram lugar a práticas que priorizam a comunicação e as
relações sociointerativas, e para isso trabalhar o texto como fator
sociocomunicativo, privilegiando a leitura e produção de textos nos mais diversos
gêneros é fundamental para a construção do saber linguístico. A Gramática não
pode ser mais ensinada como uma disciplina à parte da língua, e sim a partir da
necessidade estrutural de cada gênero.
O aluno hoje precisa
aprender usar de forma eficiente os mecanismos da língua para suas atividades
sociais, ou seja, a língua deve servir como instrumento de inserção e não de
exclusão social. O estudo da Língua Portuguesa não deve ser visto apenas como
uma disciplina de caráter propedêutico, mas sim como instrumento de comunicação
social, pois ela não é estática, é dinâmica e como tal acompanha as
transformações sociais de seu tempo.
José Geraldo da Silva
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