terça-feira, 2 de outubro de 2012

AS MUDANÇAS SIGNIFICATIVAS NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA




A educação no Brasil passou por várias fases durante o século vinte, principalmente, o ensino da Língua Portuguesa. Mas é a partir da década de sessenta que mudanças foram mais significativas. Com a inserção das camadas populares na escola o processo ensino/aprendizagem de português passou por transformações profundas. A escola recebeu alunos oriundos de diferentes setores da sociedade e com eles as diferentes formas de se falar o português. Isso fez com que os especialistas em educação repensassem a maneira de se trabalhar a língua. Mudanças significativas ocorreram na década de oitenta referentes ao trabalho com o texto e a leitura.
Antes da década de oitenta, o texto era visto como um modelo do bem falar. Era trabalhado na sala de aula apenas do ponto de vista da escrita normativa levando em conta os aspectos gramaticais e de ortografia. O mesmo acontecia com a leitura que era tratada nos moldes da retórica. Porém essa forma de trabalho beletrista passa a ser procedimental. O texto passa a ser então a unidade de ensino mais importante na sala de aula a oralidade não é mais vista de acordo com as tradições da retórica. A leitura deve ser trabalhada para que o aluno possa ler, interpretar e discutir.
Com essas mudanças significativas configura-se então um currículo procedimental, baseado na Psicologia cognitiva e na Linguística Textual, ao contrário de um currículo comunicativo ou pragmático, como era proposto na década de setenta. As contribuições da Linguística Aplicada e da Sociolinguística foram fundamentais para as mudanças em relação ao trabalho com o texto em sala de aula. Muitas foram as contribuições de especialistas neste campo de estudo, pode-se destacar o trabalho do professor João Wanderley Geraldi na organização do livro “O Texto na Sala de Aula” que continua muito atual e também dos estudos realizados sobre as teorias de Bakhtin, principalmente, no que se refere ao discurso.
É interessante  observar o que afirma a professora Irandé Antunes de que “a língua só se atualiza a serviço da comunicação intersubjetiva, em situações de atuação social e através de práticas discursivas, materializadas em textos orais e escritos.” (ANTUNES. 2003.P.42). Assim o texto passa a ser o elemento fundamental para o trabalho de Língua Portuguesa. Conforme o currículo de Língua Portuguesa, o ensino e língua materna centrado no texto requer que o professor desenvolva habilidades dos alunos que ultrapassem uma visão reducionista dos fenômenos linguísticos e literários. Como se vê o texto é fator importante no ensino de língua materna.
A visão de escrita trabalhada antes da década de oitenta que enfatizava a bela escrita fica então ultrapassada. O importante no trabalho com a escrita é evidenciar o seu fator social, segundo Antunes:
“A atividade da escrita é, então, uma atividade interativa de expressão, (ex- ‘para fora’), de manifestação verbal das ideias, informações, intenções, crenças ou dos sentimentos que queremos partilhar com alguém, para de algum modo, interagir com ele. Ter o que dizer é, portanto, uma condição prévia para o êxito da atividade de escrever. Não há conhecimento linguístico (lexical ou gramatical) que supra a deficiência do ‘não ter o que dizer’”
(ANTUNES.2003. P.45)
KOCK (2005, P.26) defende o ponto de vista de que, “a produção textual é uma atividade verbal, a serviço de fins sociais e, portanto, inserida em contextos mais complexos de atividades...” Como se vê o texto tem uma função relevante no processo de ensino de Língua Portuguesa.
Essas mudanças não se deram apenas em relação ao texto escrito, mas também no processo de ensino da leitura. Texto e leitura estão profundamente interligados. Não se concebe um trabalho de escrita sem antes um trabalho de leitura. Antes vista como um processo de decodificação e bem falar, hoje como elemento de compreensão de mundo. Ler não é só decorar, mas fazer inferências, formar conceitos, discussões e construir a cidadania. A frase de Ziraldo é pertinente para o momento “Ler é melhor que estudar” Pena que a escola não tem evidenciado esse aspecto.
As práticas de leitura na escola ainda estão semelhantes as da década de cinquenta, aliás pouco se lê. Outro aspecto a ser observado é de como ela é realizada no espaço escolar. É relegado ao professor de Português o compromisso com a leitura. As críticas são: o aluno não sabe interpretar porque não sabe ler, não vai bem nos exames porque não lê. Daí fica um questionamento, as outras áreas de conhecimento não trabalham com textos escritos? Por que só os professores de português tem o compromisso com a leitura?
Tem se observado que as práticas de leitura que são efetivadas continuam ainda num trabalho superficial, leituras de extração sem levar em conta as inferências, o intertexto e as várias possibilidades de um texto. A leitura prazerosa ainda não ganhou destaque no ambiente escolar, embora haja muitos projetos interessantes sendo aplicados e com resultados muito positivos. Ler antes de tudo deve ser um ato de prazer, não uma obrigação didática.
Como se viu, o trabalho com o texto e a leitura na escola passou por mudanças profundas, deixando o aspecto beletrista de ensino da língua para um trabalho procedimental. O texto é o elemento fundamental para o ensino da língua materna e a leitura não deve ser vista como um elemento isolado no processo de ensino/aprendizagem. Texto e leitura são elementos fundamentais no processo de comunicação social, que é o que se vê nas propostas curriculares para o ensino de Língua Portuguesa.
                                                                      
                                                                      José Geraldo da Silva


Bibliografia:


ANTUNES. I. Aula de Português: encontro & interação. São Paulo: Parábola Editorial,2003.

KOCK. I. G. V. O Texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto.2005.


           


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