A educação no Brasil passou por várias
fases durante o século vinte, principalmente, o ensino da Língua Portuguesa.
Mas é a partir da década de sessenta que mudanças foram mais significativas. Com
a inserção das camadas populares na escola o processo ensino/aprendizagem de
português passou por transformações profundas. A escola recebeu alunos oriundos
de diferentes setores da sociedade e com eles as diferentes formas de se falar
o português. Isso fez com que os especialistas em educação repensassem a
maneira de se trabalhar a língua. Mudanças significativas ocorreram na década
de oitenta referentes ao trabalho com o texto e a leitura.
Antes da década de oitenta, o texto
era visto como um modelo do bem falar. Era trabalhado na sala de aula apenas do
ponto de vista da escrita normativa levando em conta os aspectos gramaticais e
de ortografia. O mesmo acontecia com a leitura que era tratada nos moldes da
retórica. Porém essa forma de trabalho beletrista passa a ser procedimental. O
texto passa a ser então a unidade de ensino mais importante na sala de aula a
oralidade não é mais vista de acordo com as tradições da retórica. A leitura
deve ser trabalhada para que o aluno possa ler, interpretar e discutir.
Com essas mudanças significativas
configura-se então um currículo procedimental, baseado na Psicologia cognitiva
e na Linguística Textual, ao contrário de um currículo comunicativo ou
pragmático, como era proposto na década de setenta. As contribuições da
Linguística Aplicada e da Sociolinguística foram fundamentais para as mudanças
em relação ao trabalho com o texto em sala de aula. Muitas foram as
contribuições de especialistas neste campo de estudo, pode-se destacar o
trabalho do professor João Wanderley Geraldi na organização do livro “O Texto na
Sala de Aula” que continua muito atual e também dos estudos realizados sobre as
teorias de Bakhtin, principalmente, no que se refere ao discurso.
É interessante observar o que
afirma a professora Irandé Antunes de que “a língua só se atualiza a serviço da
comunicação intersubjetiva, em situações de atuação social e através de
práticas discursivas, materializadas em textos orais e escritos.” (ANTUNES.
2003.P.42). Assim o texto passa a ser o elemento fundamental para o trabalho de
Língua Portuguesa. Conforme o currículo de Língua Portuguesa, o ensino e língua
materna centrado no texto requer que o professor desenvolva habilidades dos
alunos que ultrapassem uma visão reducionista dos fenômenos linguísticos e
literários. Como se vê o texto é fator importante no ensino de língua materna.
A visão de escrita trabalhada antes
da década de oitenta que enfatizava a bela escrita fica então ultrapassada. O
importante no trabalho com a escrita é evidenciar o seu fator social, segundo
Antunes:
“A atividade da escrita é, então, uma atividade interativa de
expressão, (ex- ‘para fora’), de manifestação verbal das ideias, informações,
intenções, crenças ou dos sentimentos que queremos partilhar com alguém, para
de algum modo, interagir com ele. Ter o que dizer é, portanto, uma condição
prévia para o êxito da atividade de escrever. Não há conhecimento linguístico (lexical
ou gramatical) que supra a deficiência do ‘não ter o que dizer’”
(ANTUNES.2003. P.45)
KOCK (2005, P.26) defende o ponto de
vista de que, “a produção textual é uma atividade verbal, a serviço de fins sociais
e, portanto, inserida em contextos mais complexos de atividades...”
Como se vê o texto tem uma função relevante no processo de ensino de Língua
Portuguesa.
Essas mudanças não se deram apenas em
relação ao texto escrito, mas também no processo de ensino da leitura. Texto e
leitura estão profundamente interligados. Não se concebe um trabalho de escrita
sem antes um trabalho de leitura. Antes vista como um processo de decodificação
e bem falar, hoje como elemento de compreensão de mundo. Ler não é só decorar,
mas fazer inferências, formar conceitos, discussões e construir a cidadania. A
frase de Ziraldo é pertinente para o momento “Ler é melhor que estudar” Pena
que a escola não tem evidenciado esse aspecto.
As práticas de leitura na escola
ainda estão semelhantes as da década de cinquenta, aliás pouco se lê. Outro
aspecto a ser observado é de como ela é realizada no espaço escolar. É relegado
ao professor de Português o compromisso com a leitura. As críticas são: o aluno
não sabe interpretar porque não sabe ler, não vai bem nos exames porque não lê.
Daí fica um questionamento, as outras áreas de conhecimento não trabalham com
textos escritos? Por que só os professores de português tem o compromisso com a
leitura?
Tem se observado que as práticas de
leitura que são efetivadas continuam ainda num trabalho superficial, leituras
de extração sem levar em conta as inferências, o intertexto e as várias
possibilidades de um texto. A leitura prazerosa ainda não ganhou destaque no
ambiente escolar, embora haja muitos projetos interessantes sendo aplicados e
com resultados muito positivos. Ler antes de tudo deve ser um ato de prazer,
não uma obrigação didática.
Como se viu, o trabalho com o texto e
a leitura na escola passou por mudanças profundas, deixando o aspecto
beletrista de ensino da língua para um trabalho procedimental. O texto é o
elemento fundamental para o ensino da língua materna e a leitura não deve ser
vista como um elemento isolado no processo de ensino/aprendizagem. Texto e
leitura são elementos fundamentais no processo de comunicação social, que é o
que se vê nas propostas curriculares para o ensino de Língua Portuguesa.
José Geraldo da Silva
Bibliografia:
ANTUNES. I. Aula de Português: encontro & interação.
São Paulo: Parábola Editorial,2003.
KOCK. I. G. V.
O Texto e a construção dos sentidos.
São Paulo: Contexto.2005.
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