terça-feira, 12 de março de 2013

METADE


Em sua viagem ao mundo recém-criado o ser encantado levou em sua aljava suas setas inflamadas dos mais nobres sentimentos. Dentre eles o mais cobiçado, o mais desejado, invejado e também o mais desacreditado. Motivo de disputa no Olimpo, lugar de todas as vaidades, beldades, maldades e lugar de eternidade. Onde ele estabelece sua morada.
Sem ainda entender o poder a si confiado, atirou suas flechas acertando toda a humanidade. Unindo corações, unindo metades. As mais belas histórias de amor foram vividas. Abelardo que amou Heloise e por ela foi amado. Separados pela hipocrisia, unidos na eternidade. Romeu que amou Julieta e por ela foi amado. Separados pela ignorância, unidos pela fatalidade.
Ele próprio foi capturado. De perseguidor com missão atroz, por suas setas foi encantado. Podendo apenas oferecer à amada a noite e com a face ocultada para não ser desmascarado.
Assim acontece com a pena do poeta, pena que é encantada. Que cria, sonha e ama, e brinda a humanidade com suas baladas, odes elegias, com sua poesia. Pena que sem pena toca o coração do iluminado. Que como Cupido também é afetado e que não pode seu rosto ser revelado. Que se contenta apenas com a metade...

Autor: José Geraldo da Silva


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