sábado, 30 de março de 2013

O SEGREDO DA ROSA

Um velho ancião no alto de uma pedra conta aos seus discípulos uma triste história:
Tudo começou com a nefasta sentença do mago Festos, que encarcerou em uma redoma a joia mais rara do rei Petros. Rei este que ostentava riqueza e luxo. Sua arrogância foi a causa de seu drama. Por ser poderoso achou que podia desafiar o poder do soberano da floresta. Sua ousadia custou caro. Por isso o mago o sentenciou:
- Porque ousaste a me desafiar Petros, transformarei o seu reino em ruínas e junto com ele toda a sua corte se tornará amaldiçoada, e todos os seus membros se transformarão em seres desprezíveis.
- Não, não! Imploro-te grande Festos, por favor, não!
- É tarde demais, a sua arrogância te levará à ruína. E tem mais, transformarei a sua linda filha Katherina numa figura de cera e a colocarei numa redoma, e sua beleza só poderá ser contemplada à noite, pois a luz e o calor do dia a matarão.
- Eu te imploro mais uma vez! Minha filha não, ela não tem culpa pelos meus erros. É o bem mais precioso que tenho. Faça o que quiser comigo, pode me destruir, mas poupe a criança.
- Isso não será possível, a sentença já foi dada. Ela estará cercada por espinhos venenosos e quem tocá-los morrerá.
- Não, não, eu não suportarei isso. Ver minha filha aprisionada, sentenciada a viver apenas algumas horas, sem poder sair de sua prisão, sem eu poder tocá-la.
- Será assim, a única coisa que permitirei é que a visite, mas nem ouse tocá-la.
O rei Petros caiu em desespero e chorou sua tragédia. Atordoado correu para tentar salvar sua filha, mas já era tarde demais. Seu reino estava em trevas, sua corte transformada em seres estranhos. Seu fiel escudeiro em uma mistura de sapo e homem lhe gritava:
- Rei, meu rei, que desgraça foi essa. Venha ver no meio do pátio do palácio há uma redoma em forma de botão de rosa.
- Então é real. Disse Petros.
- Real, o quê meu senhor?
- Boris, fui sentenciado por Festo o mago das florestas. Tudo o que aconteceu foi por minha culpa. Minha pobre filha está aprisionada para sempre.
A aparência de Petros também mudou, seu corpo esguio ficou curvado, seus cabelos ficaram brancos e seu rosto envelheceu brutalmente. A roupa de gala foi transformada em farrapos. Rei e conselheiro choraram juntos o drama.
Anos se passaram e o sofrimento de Petros aumentava cada vez mais.
- Venha Boris, está escurecendo, precisamos levar água para a rosa.
- Sim meu senhor.
Era sempre a mesma coisa. Petros com uma vara, que continha uma caneca na ponta, oferecia água para a moça, pois não podia tocá-la por causa dos espinhos.
- Beba minha querida.
- Obrigada pelo carinho, meu senhor.
Enquanto este ritual noturno acontecia, a corte do rei Petros contemplava a beleza e o brilho da rosa que iluminava todo o lugar. Todos dançavam, cantavam em louvor à beleza, até a aurora. Isso era o alento para as suas dores.
Quando a alva ia surgindo tudo silenciava e Petros se despedia da filha contendo suas lágrimas.
- Meu senhor, por que todas as noites me traz água e fica me velando como se fosse o meu guardião? Por que tanta dedicação? Perguntou isso, porque não reconhecia o pai por causa de sua transformação física.
Petros num instante de silêncio fúnebre pensa o que responder.
- É porque amo a beleza, é só por isso. Por favor, tenho que ir, o dia já está nascendo.
Neste instante a rosa começa a se fechar.
- Ei, ei, por que não posso sair daqui? Por que vivo nesta redoma cercada por espinhos? Alguém, por favor, me responda?
O pobre moribundo sai em lágrimas para o seu esconderijo.
- Meu senhor, meu senhor não fique assim, havemos de achar uma forma de anular a sentença de Festos.
- Boris, muitos anos se passaram e estamos aqui, vivendo
às escondidas. Festos não quer me ouvir, não consigo chegar nem perto de seu templo.
- E se procurarmos Morgana, quem sabe ela nos ajude.
Morgana era a rainha das bruxas da floresta encantada.
- Como chegaremos até ela com essas aparências?
- Acharemos um jeito, acharemos.
E lá foram os dois para os seus esconderijos.
Petros criou coragem e foi procurar por Morgana. Era sua última esperança. Havia uma rusga entre Festos e Morgana, por isso o rei ficou animado em procura-la.
- Minha senhora têm duas criaturas esquisitas querendo lhe falar. Disse Fenícia, uma bruxinha.
- Criaturas esquisitas! Sabe que não costumo falar com estranhos, principalmente criaturas esquisitas.
- Mas eles insistem!
Morgana tinha os cabelos vermelhos como fogo, sua beleza era estonteante. Porém toda essa magnitude escondia alguém muito temperamental e um segredo. Ela contava com três assistentes, Fenícia, Magda e Raissa.
- Raissa vá até a floresta me buscar ervas para uma porção.
- Sim minha senhora, irei imediatamente.
Quando Raissa saiu, Petros a abordou dizendo:
- Por favor, me ajude!
- Quem és tu criatura, e quem é esse ser esquisito que está do seu lado?
- Eu sou Petros e esse é Boris meu fiel amigo.
- Não me lembro de tê-lo conhecido criatura.
- Talvez tenha conhecido a minha história, mas, por favor, me ajude!
- E o que quer que eu faça?
- Preciso falar com Morgana, me leve até ela.
- Não posso minha senhora não atende estranhos, e não me perdoará por desobedece-la. Sinto muito.
A moça saiu para cumprir a tarefa que lhe fora dada cantarolando.
- Vamos embora meu senhor, não adianta.
- Daqui não saio Boris.
Neste instante Magda sai para o jardim para colher flores. Ela das três assistentes era a que tinha o coração mais bondoso. Era uma linda moça, cabelos dourados e cacheados, um rosto angelical em forma de bruxa.
- Veja Boris, veja, vamos falar com aquela moça.
- Vamos embora, não adianta.
- Não, não, eu irei até ela, tenho a impressão de que ela vai nos ajudar.
- Senhor, para que tanta humilhação?
- É por amor, Boris, por amor.
- Ei, ei, moça! Por favor, me ajude!
- Quem és tu criatura esquisita?
- Sou Petros e preciso de sua ajuda.
- Por que eu deveria te ajudar?
- Eu preciso falar com Morgana.
- Impossível!
- Por favor!
- Olha aqui, minha senhora é muito ocupada, não recebe estranhos, e se eu leva-lo até ela serei punida por desobediência, e não quero sofrer nenhuma punição.
- Eu te imploro, se soubesse a minha dor. Tenho uma filha, uma única filha, meu maior bem. Ela está aprisionada por causa de uma sentença nefasta.
Petros chorou como nunca houvera chorado. O coração de Magda foi contagiado pela emoção.
- Não faça isso, não aguento ver ninguém chorando. Eu não devia ter esses sentimentos, pois quero ser uma grande bruxa, e bruxas não podem ter o coração mole. Pare com isso.
- Estou desesperado, preciso de ajuda para libertar minha filha e Morgana é minha última esperança.
- Fique calmo, não se desespere, verei o que posso fazer. Não saia daqui até que eu volte.
Magda voltou para dentro da casa e ficou pensando como poderia ajudar o pobre homem. Passado algum tempo ela voltou para o jardim.
- Ei, ei, onde está você? Pode aparecer.
- Estou aqui atrás desta pedra.
- Saia daí para conversarmos. Volte amanhã à meia noite, estaremos dançando na floresta em homenagem à lua. Traga um presente e entre no meio da dança, assim ela te verá e não terá como negar uma conversa, mas traga um presente, minha senhora é muito vaidosa.
- Até logo, você não sabe o bem que me faz.
- Não precisa me abraçar, nem me tocar, já cedi demais. Agora vá!
Petros cumpria o seu ritual noturno, só que desta vez com pressa, pois precisava ir ao encontro de Morgana.
- Beba minha querida.
- Por que tanta pressa meu senhor?
- Preciso resolver nossas vidas.
- Como assim nossas vidas?
- Logo você entenderá.
- Fique mais um pouco, gosto de sua companhia.
- Em breve teremos muito tempo juntos.
- Não estou entendendo esta conversa. Não vá, me diga o que isto significa?
- Ainda não! Vamos embora Boris, antes que dê meia noite.
- Meu senhor estou com a joia que conseguiu esconder.
- Sim, meu caro, este será o presente para a bruxa.
A floresta estava tão iluminada pelo clarão da lua e da enorme fogueira. Bruxas e seres encantados dançavam ao redor do fogo. Assim os dois entraram no meio da festa e alegres dançavam.
- Parem! Parem! Bradou Morgana.
- Quem são estes estranhos que ousaram invadir a minha festa? Quem são? quem permitiu que entrassem?
Um silêncio pairou no ar
- Foi eu minha senhora. Disse Magda. Foi eu quem permitiu.
- Tinha que ser o coração mole. Interpelou Raissa.
- Ela tem que ser punida senhora. Falou Fenícia.
- É sim, é sim. Disse Raissa. Esses dois me incomodaram para que eu os trouxesse à sua presença. Disse-lhes que não. Ela tem que ser punida. Não pode ser uma de nós.
- Minha senhora, apenas segui meu coração.
Morgana enraivecida lhe responde:
- Nós bruxas não seguimos nossos corações, você sabe bem disto. Por isso será expulsa do nosso grupo.
- Não, não, por favor, não!
- Ei, minha senhora quem deve ser punido sou eu, se é que ainda há pior castigo do que o que vivo.
- Quem és tu criatura, para ousar falar comigo?
- Sou Petros de Esmirna
- Petros, Petros! O quê? O rei Petros, não pode ser! Eu conheci Petros, não era essa criatura horrenda. Não pode ser!
- Sou sim, minha senhora. Fui amaldiçoado por Festos. E esse que está comigo é Boris, meu fiel conselheiro.
- Não pode ser! Boris o sábio.
- Sou sim, minha senhora.
- Féstos, sempre Festos. O mago mais vaidoso que já conheci. Não aceita que ninguém o contrarie. Eu o conheço muito bem, e como conheço. Aquele ladrão de corações. Chega de saudosismo. Por que acha que posso ajuda-lo?
- É a minha última esperança. Fiquei sabendo que a senhora tem certas diferenças com ele.
- Não permito que toques em coisas da minha vida íntima. Cale-se.
- Não queria aborrecê-la, me desculpe. Sou um pai desesperado que só pode ver a filha à noite, pois está aprisionada numa redoma em forma de botão de rosas, que só abre à noite, e está cercada de espinhos venenosos, e, além disso, ela foi transformada em cera, não pode receber a luz do dia. Todo o meu reino tornou-se ruínas e minha corte transformada em seres estranhos.
- Ah Festos! Sua mágoa o tornou perverso em suas sentenças. Embora você não ter sido boa bisca, ele exagerou na dose. Por causa de uma história do passado, que precisa ser resolvida vou te ajudar, Petros, só por isso. Magda venha cá! Já que ousou me desobedecer terá uma missão, acompanhar o rei na sua procura, pois tem o coração bondoso. Petros você irá até a caverna dos morcegos que está no vale, lá encontrará um jovem, ele será a solução para vencer a maldição.
- Quem é esse jovem?
- É ele que te ajudará. Não deixe que Festos saiba disto, pois seria algo terrível.
- Minha senhora, os olhos de Festos estão em todos os lugares. Ele tem espiões por todos os cantos. Somente no teu mundo ele não pode entrar. Como farei isso sem ele saber?
- Eu não disse que seria fácil, disse? Por isso Magda irá com você, ela tem poderes mágicos, isso lhes ajudará. Quando encontrar o jovem leve-o até o botão de rosas. Somente ele pode tocá-la para quebrar o encanto. Proteja-o com tua vida. O ódio de Festos será quebrado, pois duas maldições serão quebradas quando ele tocar a rosa.
- Obrigado, obrigado minha senhora.
- Não me agradeça estou corrigindo um erro do passado. Agora ande, vá sem demora.
- Sim, sim, vamos.
Antes de sair o rei entregou a joia que havia levado de presente para Morgana.
Morgana recebe o presente e fica pensativa. O silêncio foi interrompido por Fenícia, que perguntou:
- Senhora, por que quis ajudar este ser desprezível?
- No passado eu era uma moça sonhadora, conheci um belo rapaz, cheio de encantos e sedução, um aprendiz de mago. Nos apaixonamos, vivemos uma grande paixão. Porém fomos vítimas de intrigas e mentiras, e alguém disse a Festos que eu o traia. O ciúmes o cegou, ele nunca me perdoou, e nem aceitou o fruto que estava no meu ventre, pois não acreditava na minha inocência, me julgou, não confiou no meu amor.
- Que triste, minha senhora. Falou Raissa.
- O pior foi a maldade que ele cometeu, me roubou a criança, seu próprio filho e o colocou em uma caverna. Deixando lá para vigiá-la uma criatura estranha, uma espécie de homem morcego, horrível. Nunca mais pude ver meu filho.
Morgana que nunca havia demonstrado sentimentos de emoção perto de suas assistentes, naquela noite chorou.
- Ele nunca aceitou. Ele nunca acreditou no meu amor, me tirou a última lembrança boa do nosso amor. Desgraçado Festos! E o pior, fiquei sabendo que o menino ficou cego, por viver na escuridão. Que horror, que desgraça!
- Não fique assim senhora. Bradaram as moças.
Magda acompanhava os dois seres até a caverna e para que não fossem reconhecidos, transformou-os em dois grilos e os colocou em uma caixinha.
- Fiquem ai quietos até chegarmos à caverna, lá os soltarei para que entrem, e quando entrarem vocês tornarão às suas formas, e tirem o moço de lá. Entenderam?
- Quem se aproxima? Disse a criatura horrível, Chamado Nefistos.
- Responda, senão eu vou te atacar e sugar todo o teu sangue e transformá-lo numa criatura das trevas.
- Sou eu, sou eu, Magda. Não precisa ficar preocupado. Vim apenas conversar com você.
- Eu não te conheço, não quero conversa com ninguém. Meu mestre me proibiu disto.
Magda estava atrás de uma pedra aguardando o momento certo para aparecer.
- Eu não acredito que você não queira falar comigo.
- Festos não permite isso, sou o guardião da caverna.
De repente, Magda aparece, sua beleza encanta a fera.
- Oh raios! Que beleza.
A fera foi encantada, ficou sem palavras.
- Vim conhecer o famoso guardião, ouvi muito a teu respeito.
- a meu respeito?
- Sim, que é obediente, forte e corajoso.
Neste instante sem que a fera percebesse, solta os grilos e eles entram na caverna.
- Ninguém nunca se aproximou de mim, sempre correram.
- É que eles não sabem a pessoa especial que você é.
Todo embasbacado, ficou a fera com o encantamento e não percebeu que o moço foi tirado da caverna. Markus era o seu nome.
- Vamos, vamos depressa, pois logo vai escurecer.
Os dois seguravam os braços do rapaz para que ele não caísse pelo caminho. Magda, quando viu que o plano tinha dado certo, disfarçou e também fugiu. A fera endoideceu.
- Raios, raios! Meu mestre vai me destruir. Como pude ser tão tolo, cair num encanto de bruxaria. Estou perdido.
Festos soube, pois dois de seus espiões, criaturinhas esquisitas em forma de insetos lhe contaram o fato.
- Maldito! Aquele incompetente, deixou que o rapaz saísse de sua prisão. Corram todos, temos que impedir que ele toque a rosa. Isso só pode ser coisa da Morgana. Corram, corram! E você seu morcego idiota irá passar todos os seus dias numa gaiola de aço.
O Mago saiu para impedir que toda a maldição fosse quebrada. Rumou até o palácio de Petros, que se encontrava em ruinas. Só não contava com a surpresa que o aguardava.
Petros chega com o moço e fica aguardando a rosa se abrir.
- Boris, esconda o moço, vou me certificar de que não fomos seguidos.
- Sim meu senhor.
- Quem são vocês, por que me trouxeram a este lugar? Disse Markus assustado.
- Fique calmo. Respondeu Boris.
Em silêncio aguardavam quando de repente Festos aparece.
- Petros, por que me desafia de novo, saia de teu esconderijo, me entregue o rapaz. Saia, seu covarde!
Nesse momento Morgana aparece.
- Pare Festos! Temos um assunto para resolver.
- Não ouse, sua traidora, não me desafie. Não basta o mal que me fez passado me traindo!
- Não fale o que não sabe, ficou cego por causa do ciúme. Não me deu ouvidos, não quis saber a verdade. Tornou-se amargo e vingativo.
- Fui traído sim, me trocou por outro.
- Isso não é verdade. O teu ciúme não deixou que enxergasse a verdade. Nunca o trai, foi tudo intriga daqueles que não queriam a nossa felicidade.
- Não acredito!
- É a mais pura verdade.
Enquanto os dois discutiam as suas vidas, Petros pegou o moço e o levou até a rosa. As pétalas foram se abrindo lentamente. O lugar foi ficando iluminado.
- Meu senhor, que é esse moço? Indagou Katherina.
- É Markus, ele veio te conhecer, mas infelizmente não pode ver a tua beleza.
- Por quê?
- Ele é cego.
De repente, algo mágico acontece. O moço estende a mão e perpassa os espinhos e quando vai tocá-la, Festos brada com muito ódio:
- Não se atreva! Senão irá morrer.
Armou o seu arco, e quando ia atirar a flecha, Morgana grita:
- Matará o teu próprio fruto por causa do teu ódio?
- O que fala?
- Sim, ele é teu filho, teu filho!
- isto não pode ser verdade.
- É a mais pura verdade. O ciúme não apenas te cegou, como também cegou teu filho.
Festos ficou imóvel. O coração embrutecido amoleceu. Caiu de joelhos e chorou, um choro amargo.
- Como pude ser tão insensato, passei todos esses anos alimentando o ódio. Condenei meu próprio filho a viver na escuridão. Como pude ter ficado tão cego.
- Festos, deixe nosso filho que nunca viu a luz deste mundo, que nunca conheceu a maldade e seus vícios tocar a flor para que o ódio se transforme em amor. Deixe-o cumprir o seu destino.
Morgana abraça o mago e juntos choram o dissabor de duas almas amantes separadas pela mentira. Neste instante Markus toca a rosa, seus olhos puderam pela primeira vez contemplar a beleza da vida.
- Oh meu Deus! Como você é linda.
- Você está me vendo?
- Sim, sim, estou vendo, estou vendo.
Petros extasiado com o que estava acontecendo, nem percebeu as transformações ao seu redor. Toda a maldição foi quebrada. Sua corte voltou a ser o que era antes.
O jovem arrancou os espinhos, tirou a moça da redoma e a trouxe até Petros.
- Minha filha, está livre, livre!
- Quer dizer que todos esses anos foi o meu próprio pai quem cuidou de mim.
- Sim, o meu amor nunca me separou de você.
Ele a abraçou e choraram um choro de alegria. Naquele momento Petros recupera toda a sua aparência de rei.
- Boris, meu querido Boris, amigo de sempre, onde você está?
- Estou aqui meu senhor.
Boris também voltou a ser o Lorde que sempre fora. Os dois se abraçaram e sorriram.
Markus foi até Morgana acompanhado por Magda. Ficou sabendo de toda a sua história. Abraçou sua mãe que o acariciava, como todas as mães fazem. Festos todo envergonhado olha para o moço, pede-lhe perdão e diz:
- Não sou digno de ser perdoado, pois nunca ouvi o pedido dos outros. Vou para a caverna para purgar os meus erros. Quem sabe um dia destes eu possa me encontrar. Adeus!
- Espere meu pai! Nossas vidas hoje se encontraram, podemos recomeça-las a partir de agora. Meu coração está aberto para o senhor e minha mãe.
O mago desmoronou. Abraçou o filho como se fosse uma eternidade.
O reino voltou a ser iluminado. A rosa casou-se. Petros envelheceu e viveu sua velhice feliz. Morgana voltou para sua floresta. Festo resignou-se e nunca mais praticou maldades e aprendeu a lição de que não se deve deixar que sentimentos mesquinhos possam cegar nosso entendimento.
Autor: José Geraldo da Silva

terça-feira, 19 de março de 2013

Vídeo "Grandes Mestres da Literatura"

Os vídeos abaixo fazem parte do acervo do MEC para serem utilizados por professores e alunos. É uma apresentação sucinta da vida e obra de grandes autores da Literatura brasileira. é uma viagem pelo universo de cada um deles. Para assistir e baixar, basta clicar em cima do nome de cada autor.

José de Alencar

Graciliano Ramos

Guimarães Rosa

José Lins do Rego

Lima Barreto

Lygia Fagundes Teles

Machado de Assis

Mário de Andrade

Drummond

João Cabral de Mello Neto

Rachel de Queiroz


Vídeo Apresentação


O projeto de inclusão digital: inserção ao mundo digital tem como objetivo capacitar os alunos para o uso das novas tecnologias, bem como a Internet. O vídeo abaixo apresenta de forma clara o que vem a ser esse projeto e seus objetivos.

Assistam ao vídeo:



segunda-feira, 18 de março de 2013

CONTOS EM QUADRINHOS

Transformar gêneros é uma atividade que vem sendo trabalhada com muita eficiência pelos professores de Língua Portuguesa. Os alunos após a leitura de alguns contos, que inclusive estão neste  blog, receberam a tarefa de transformá-los em histórias em quadrinhos. Esta atividade também faz parte do projeto de inserção ao mundo digital desenvolvido pelo professor de Língua Portuguesa, José Geraldo da EMEF. Profª Dalva Foçaça. Para visualizá-los é só clicar abaixo.

Acesse clicando aqui - Trabalho da Lorraine, 7º Ano C.

                                 - Gabriela de Oliveira Miguel 7ºC

                                  - Beatriz da Silva 7ºB

                                   -  Carlos Eduardo

                                  Amanda Oliveira 7º A

                                   Ana Beatriz 7º C

                                        Biel

                                    Jéssica Cruz

                                   Bruna Figueiredo (Wilmar)

                                 João Vítor (Wilmar)


                                      João Vítor

                                O Encontro do Desencontro

                                   Cláudio Gabriel (Wilmar)

                                          Luan Soares (Wilmar)

                                                 Luan 2 






quarta-feira, 13 de março de 2013

MENINO PASSARINHO




A história que eu vou contar pode se confundir com a de muitas pessoas. A história do menino passarinho. Eu o conheci se é que se pode dizer isso, porque pouquíssimas pessoas puderam conhecê-lo de verdade. A primeira vez que o vi, algo me chamou a atenção. Garoto calado, olhar profundo, como se estivesse o tempo todo contemplando alguma coisa. Para sua idade tinha uma estatura normal. Nesse primeiro encontro pouco falou comigo, apenas respondeu as perguntas que lhe fiz. Seu nome era Ângelo.
Nasceu em uma casa simples da periferia, onde vivia com seus quatro irmãos. O pai ele não conhecia. Era sua mãe que sustentava a casa trabalhando como doméstica. Seu irmão mais velho também ajudava, pois já tinha idade para trabalhar. Ângelo ou Anjinho, como era chamado pelos irmãos era diferente dos outros. Sempre fora caldo, sempre com o olhar taciturno. Tinha uma esperteza natural, tanto que os parentes e amigos diziam que iria longe na vida. Mas a timidez o afastava do sucesso.
No primeiro dia de aula de sua vida ficou sem falar com ninguém, somente respondeu a chamada. Assim ficou por muito tempo. Os colegas da sala tentavam se aproximar dele, mas ele não se abria para as amizades. Calado chegava, calado saia. Foi neste tempo que seus problemas começaram. Era considerado aluno displicente, preguiçoso. Começou a frequentar assiduamente a sala da direção da escola. Sua mãe perdera a conta de quantas vezes fora chamada por causa disso. Conversas e conversas, e nada mudava. Repetiu o primeiro ano duas vezes. O segundo uma vez, o terceiro mais duas e quando chegou ao quarto já era um adolescente. Neste período Anjinho tornou-se agressivo, vivia arrumando confusões, sem contar as mudanças de escola. Ele por ficar o tempo todo calado e contemplativo, foi apelidado de o menino passarinho, tudo por causa de um professor que bem alto gritou que ele parecia um passarinho, pois passava o tempo todo voando.
O que será que passava pela cabeça do menino passarinho, por onde será que ele voava? Essa pergunta atordoava a todos que dele queriam se aproximar. Às duras penas ele terminou a quarta série. Já era um moço, quinze anos . Resolveu que não iria mais para a escola, pois queria trabalhar. Sua mãe ficou apreensiva, como poderia seu menino sobreviver dentro de uma empresa do jeito que ele era. Não permaneceria em emprego algum. Esse pensamento estava correto, não parou mesmo nos empregos.
Angelo tinha um lugar secreto, onde costumava ficar quando estava nervoso. Todos sabiam que ali ele se refugiava, mas ninguém sabia como era o lugar. Era um barraco velho que ficava bem no fundo do quintal de sua avó. Ali ele costumava passar horas, e às vezes, até dormia por lá. Infelizmente o menino passarinho deu um voo equivocado e foi parar em uma delegacia, pois estava com um grupo de delinquentes. A família ficou desesperada, o que fazer, eram pobres e advogado cobrava caro.
Aprisionaram o menino passarinho por dois anos. Foi nesse tempo que o conheci. Chegou em minha sala de cabeça baixa, e quase nada falou. E u já havia lido todo o relatório feito sobre ele. O motivo dele estar ali, como era sua família, seus problemas escolares. Mas algo me incomodava, ele não tinha um histórico tão ruim como eu pensava, estava ali apenas por um delito. O que se passava naquela cabeça? Passei alguns meses incomodado, pois nada tinha mudado desde o nosso primeiro encontro, ele continuava em seus voos intermináveis.
Resolvi então visitar sua família para entender melhor o garoto. Fui muito bem recebido. Todos queriam entender o motivo daquele drama. Conversamos sobre sua infância e o tempo na escola. Muita coisa não encaixava. Um garoto aparentemente normal que não conseguia estudar, que não conseguia trabalhar e que agora estava preso. Algo dentro de mim me fez perguntar para a mãe se tinha alguma coisa que ele gostava de fazer. Ela me disse que ele passava horas e horas no barraco no fundo do quintal da casa da vó, e eles não iam até lá, portanto ninguém sabia o que ele fazia e o que tinha lá dentro. Pedi para conhecer o lugar.
Quando entrei no barraco fiquei estupefato e em estado de graça. Um espaço todo organizado, uma espécie de ateliê. Esculturas, pinturas de fazer inveja a muitos artistas bem preparados. Obras geniais. O menino passarinho depois de seus voos trazia para o seu ninho as recordações dos lugares e imagens que conhecera. Sentei, contemplei e chorei. A visita àquele lugar me fez repensar o meu trabalho, as minhas abordagens aos meninos e meninas que vinham à minha sala.
Voltei para a Fundação, e solicitei que Ângelo viesse até a minha sala. Desta vez não fiz perguntas, pedi-lhe apenas que desenhasse o que estava sentindo naquele momento. Sai da sala, e depois de algum tempo voltei.
Ele me entregou o desenho, mais uma vez fiquei estupefato, mais uma vez me emocionei. Pedi para me contar, onde tinha sido aquele voo, foi aí que comecei a conhecer o verdadeiro menino passarinho. Descobri que ele sabia ler, não escrevia tão mal como se pensava, não tinha problemas em aprender. Apenas, não foi alcançado em seus voos.
Lutei para que ele fosse liberado da pena, continuei acompanhando seus passos. Ele se encontrou, começou a falar mais. Embora ainda continuasse contemplativo e de pouca conversa. Volta mais rápido de seus voos e cada vez mais com imagens geniais.
Muitos anos se passaram e o menino voou, voou, para outras terras para mostrar o produto de seus voos, é hoje um grande artista plástico. Depois dele conheci outros passarinhos, cada um com seu ninho, seu esconderijo, com sua genialidade. Aprendi a lutar para a sobrevivência destes passarinhos para que não sejam abatidos em seus voos, que não se percam pelo caminho. Ângelo, o menino passarinho também me ensinou a voar, que eu também preciso de um ninho, para comigo me encontrar. E que todos nós somos passarinhos e precisamos de liberdade para voar. Há muitos meninos passarinhos por aí precisando de alguém para encontrá-los.

Autor: José Geraldo da Silva

terça-feira, 12 de março de 2013

LÁGRIMAS



Águas que jorram devagar
Assim são as lágrimas
Quando são despertadas
Não se sabe muitas vezes
O porquê de o seu transbordar
Pode ser por causa
de uma triste cena,
De uma saudade,
Da beleza de um por de sol,
Da alegria de ver a terra seca
Sendo encharcada pela chuva tão esperada
Ou pela dor da separação.
Lágrimas tornam o ser mais humano
Demonstram as verdades,
Revelam os sentimentos,
De alegria, de dor, de amor,
Revelam a alma.
Reter as lágrimas é viver represado, empossado.
É sentir tudo e não ser mergulhado
É ser tocado, mas não alcançado.
É ter o tudo, como se não tivesse nada.
Lágrimas são como veios finos
Que se transformam em ribeirões
Que invadem os rios
Que desaguam no mar
Assim elas revelam as pequenas coisas,
Os sentimentos que crescem
As dimensões e as distancias.
Elas mostram a grandeza
De se poder amar e a nobreza do ato de chorar...

Autor: José Geraldo da Silva

SINFONIA DO OLHAR





Imagine uma orquestra interpretando uma sinfonia
Imagine seres encantados a arquitetar
No meio da floresta uma doce magia
Que só as almas puras podem enxergar
Imagine o mar agitado quebrando a monotonia
E com doce violência a pedra dura moldar
Imagine o som de prazer e alegria
Que só as almas puras podem interpretar
Por isso fui encantado
Para ouvir o som da orquestra
Regida maviosamente por um ser iluminado
Sinfonia abstrata sem ninguém para ouvir
E poder perceber que os seres encantados
Estão maliciosamente a sorrir
Admirados com a escultura feita pelo mar
Admirados com o mistério do seu olhar
Que silenciosamente regem a sinfonia
E que desconcertantemente tentam se esconder
Mas que acabam revelando a magia
Da sinfonia do silêncio que está ao teu redor
Descortinando os encantos deixando os revelar
E assim eu acordo do encanto procurando teu olhar. 

Autor: José Geraldo da Silva

O DESABAFO DE UM APRENDIZ DA PENA




Quando escrevo não me preocupo com as rimas, com a métrica ou com a forma. Escrevo tomado pela emoção do momento. Momento que me faz pensar, sonhar e questionar, simplesmente o que importa é o momento. Não busco as palavras difíceis, rebuscadas e elegantes. Procuro aquelas que combinam com o sentimento e a emoção. Sinto-me um atrevido quando ouso dizer que faço poesia ou que sou um poeta. Não posso me comparar a um Quintana, Vinícius ou um Drummond, sou apenas um aprendiz que conduz a pena de forma amadora, que treme ao tingir o papel com as palavras, criando apenas rabiscos. Também não me preocupo se alguém irá gostar daquilo que escrevo, o que importa é que o papel registra a minha emoção. O mais importante é que aprendi a amar as palavras e sua magia. E como João Guimarães Rosa tenho a palavra como minha amante e juntos procriamos. Já escrevi sobre o amor, a solidão, o tempo, o silêncio, os sonhos e acima de tudo, sobre minha fiel companheira, a palavra. É através das linhas rabiscadas que juntos criamos e divulgamos a essência do ser. Ser que só sobrevive porque tem como companheira a palavra, que simplesmente revela o ser.
Obrigado mais uma vez a você minha pena que rabiscou o desabafo deste aprendiz.

Autor: José Geraldo da Silva 

O SILÊNCIO




Às vezes ele é tão necessário
É tão desejado e tão querido
Necessário porque nos faz viajar
Viajar para um lugar escondido
Que só encontramos quando
Nos damos a oportunidade de nos calar
Calar diante das adversidades,
Das tempestades a nos atormentar
Ele nos ajuda a escancarar
As portas e janelas da morada secreta
Morada que somente nós podemos entrar
Lugar onde se esconde as tristezas,
As alegrias, os amores, os desamores
E os rancores.
Somente em silêncio podemos
No seu interior adentrar
Adentrar e vasculhar as gavetas
Que o tempo tentou arrumar e guardar
Gavetas que contém os desacertos,
Os acertos que não queremos mostrar
Somente em silêncio podemos
O baú destrancar
Baú que guarda os segredos
Que não queremos contar
Como é precioso o silêncio
Somente ele nos faz viajar
E conosco nos encontrar.

Autor: José Geraldo da Silva