segunda-feira, 23 de maio de 2016

RECEITAS QUE TRAZEM SAUDADES




  

A casinha na baixada, o ribeirão correndo aos fundos, a fumacinha nostálgica, que subia pela chaminé, naquelas manhãs de inverno. Essa era a visão que se tinha quando chegávamos à casa de minha querida avó. Essa imagem ficou impregnada na minha memória. Ela é tão sinestésica, que consigo até sentir os cheiros que exalavam da cozinha. Quantas saudades! Aquele fogão de lenha, os cuidados de minha vó, mexendo nas panelas, colocando em cada alimento o tempero, tempero este que vinha carregado de amor. Eu me sentava na taipa do fogão para me aquecer do frio, e ela passava sua mão terna na minha cabeça e me dava um bocado das iguarias que cozinhava. Quantas saudades!
O tempo passou, e todas às vezes que visito a minha cidade, passo pelo lugar onde meus avós moravam, e por alguns minutos revivo essas memórias. Minha família sempre gostou de se reunir à mesa, momento sagrado, momento em que podemos reviver nossas saudades. Minha mãe recebeu um dom muito especial, o dom de dar sabores especiais aos alimentos, e uma de suas frases memoráveis e´: tudo deve ser feito com amor, quando se cozinha com amor, mesmo que seja o prato simples, se torna saboroso. Deve ser por isso que seus pratos são muito deliciosos. E nessa nostalgia ela deu requintes a uma iguaria lá da roça, criou a cocada na moranga. Juntou o doce da cocada com o sabor da moranga. Para quem não conhece moranga é uma espécie de abóbora, daquelas usadas nos enfeites para o dia das bruxas. Sua receita é um sucesso na família e já traspassou as barreiras do núcleo familiar para ser publicada em livro.
Hoje, quando nos reunimos para saborear essa delícia, paramos para relembrar o tempo de nossas infâncias. E parece que a atmosfera que nos envolve fica cheia de saudades, principalmente, quando falamos de receitas. Cada uma delas carrega uma história. Quantas saudades! Vem à mente a casa de meus avós, das tias, vêm à mente lembranças de tempos difíceis, porém felizes. A fumacinha da chaminé, traz um cheiro de saudade. A receita da minha mãe tem esse poder mágico, volto à infância, das manhãs de inverno, das manhãs de amor na casa de minha vó. Quantas saudades!
Quando comecei a escrever sobre este assunto, mais uma vez me veio à mente doces lembranças, como o doce de minha mãe, que é sucesso certo em nossa família. Isso me fez fazer uma breve reflexão, como deve ser triste não ter doces lembranças. Acredito que quando as pessoas vão preparar seus pratos e se reunir à mesa, muitas lembranças vêm à mente. É assim que me sinto nos almoços fraternos de minha família. Quantas saudades!

   
Autor: José Geraldo da Silva