A casinha na baixada, o ribeirão
correndo aos fundos, a fumacinha nostálgica, que subia pela chaminé, naquelas
manhãs de inverno. Essa era a visão que se tinha quando chegávamos à casa de
minha querida avó. Essa imagem ficou impregnada na minha memória. Ela é tão
sinestésica, que consigo até sentir os cheiros que exalavam da cozinha. Quantas
saudades! Aquele fogão de lenha, os cuidados de minha vó, mexendo nas panelas,
colocando em cada alimento o tempero, tempero este que vinha carregado de amor.
Eu me sentava na taipa do fogão para me aquecer do frio, e ela passava sua mão
terna na minha cabeça e me dava um bocado das iguarias que cozinhava. Quantas
saudades!
O tempo passou, e todas às vezes que
visito a minha cidade, passo pelo lugar onde meus avós moravam, e por alguns
minutos revivo essas memórias. Minha família sempre gostou de se reunir à mesa,
momento sagrado, momento em que podemos reviver nossas saudades. Minha mãe recebeu
um dom muito especial, o dom de dar sabores especiais aos alimentos, e uma de
suas frases memoráveis e´: tudo deve ser feito com amor, quando se cozinha com
amor, mesmo que seja o prato simples, se torna saboroso. Deve ser por isso que
seus pratos são muito deliciosos. E nessa nostalgia ela deu requintes a uma
iguaria lá da roça, criou a cocada na moranga. Juntou o doce da cocada com o
sabor da moranga. Para quem não conhece moranga é uma espécie de abóbora,
daquelas usadas nos enfeites para o dia das bruxas. Sua receita é um sucesso na
família e já traspassou as barreiras do núcleo familiar para ser publicada em
livro.
Hoje, quando nos reunimos para
saborear essa delícia, paramos para relembrar o tempo de nossas infâncias. E
parece que a atmosfera que nos envolve fica cheia de saudades, principalmente,
quando falamos de receitas. Cada uma delas carrega uma história. Quantas
saudades! Vem à mente a casa de meus avós, das tias, vêm à mente lembranças de
tempos difíceis, porém felizes. A fumacinha da chaminé, traz um cheiro de
saudade. A receita da minha mãe tem esse poder mágico, volto à infância, das
manhãs de inverno, das manhãs de amor na casa de minha vó. Quantas saudades!
Quando comecei a escrever sobre este
assunto, mais uma vez me veio à mente doces lembranças, como o doce de minha
mãe, que é sucesso certo em nossa família. Isso me fez fazer uma breve
reflexão, como deve ser triste não ter doces lembranças. Acredito que quando as
pessoas vão preparar seus pratos e se reunir à mesa, muitas lembranças vêm à
mente. É assim que me sinto nos almoços fraternos de minha família. Quantas
saudades!
Autor: José Geraldo da Silva