Acordei, tomei meu
café habitual e abri o jornal como costumo fazer todas as manhãs. A manchete
trazia a seguinte notícia: “Foi reduzida a 0% a mortalidade infantil no país”.
Confesso, me emocionei. Outra notícia também dizia que nenhuma criança com idade
escolar estava fora das escolas. A cada notícia ou reportagem uma nova
surpresa. Não há mais crianças pedindo esmolas nos sinais de trânsito; meninos
e meninas não sofrem mais abusos sexuais; não são mais vítimas de violência
doméstica. Foi erradicada de uma vez por todas a prostituição infantil, varrida
para sempre do nosso solo. O número de gravidez na adolescência diminuiu
abruptamente. Enfim, o Estatuto da Criança e do Adolescente está sendo cumprido
e respeitado em todo o território nacional. Ao ler essas notícias comecei a
chorar de felicidade. Porém, infelizmente, acordei de um sonho.
Esse sonho mágico me
levou às lágrimas e a uma reflexão sobre o famoso dia das crianças, uma jogada
comercial bem sacada. Comemorar o quê? Se as nossas crianças sofrem maus
tratos, são vítimas de violências, ainda estão nas ruas, nos lixões da vida.
São vítimas de abandono, haja vista o número de casas abrigos. São Tragadas
vorazmente pelo monstro das drogas. Há ainda um grande número fora das escolas.
Muitas têm a sua inocência roubada opor causa de uma violência sexual. Seus
direitos são desrespeitados todos os dias. Responda-me; comemorar o quê?
O dia das crianças só
será de fato uma verdade, quando todo esse mal for erradicado. Quando de fato
as autoridades constituídas levarem a sério a educação e fizerem cumprir o que
a lei determina, pois um país que não cuida e respeita suas crianças não pode
esperar um bom futuro. Aliás, desrespeito é uma palavra comum nesta nação.
Nossas crianças não precisam de atenção, apenas por um dia para agradar o
comércio, mas sim, que todos os dias sejam de verdade, dias das crianças. Assim
o meu sonho se tornará realidade.
Autor: José Geraldo da Silva