terça-feira, 28 de maio de 2013

CHAPADINHO VERMELHO



Era uma vez, era uma vez mesmo, numa comunidade da periferia onde aconteceu mais uma história que entrou para as páginas policiais. A história de Chapadinho Vermelho, que agora vou contar. Qualquer semelhança com o original de Charles Perraut é mera coincidência.
Chapadinho era uma criança feliz, tinha até nome. Brincava com os coleguinhas no campinho de terra da comunidade, jogava bolinha de gude e fazia todo tipo de travessuras, como qualquer criança faz. Assim cresceu. Quando chegou à adolescência as coisas mudaram. Já não ia ao campinho para brincar, e sim para participar das rodinhas dos manos, trocou de brinquedos e de costumes. Foi aí que perdeu o nome e ganhou o apelido que iria marcar sua vida.
Passava horas brisando. Parou de estudar e não queria trabalhar. Conheceu o lado obscuro das drogas. Como não tinha dinheiro para satisfazer o vício, entrou para o tráfico. Afastou-se dos amigos, da família e do mundo. Ficou conhecido, agora era o famoso Chapadinho Vermelho. Era responsável pela entrega das encomendas. Entretanto, numa tarde fatídica ele entrou para as estatísticas policiais.
- Filho, por que você não para com isso? Disse sua mãe.
- Por que não arruma um emprego e volta a estudar? Esta vida não vai te levar a nada.
Ela falava com tom de desespero, pois sabia que seu filho estava na mira das facções rivais e da polícia. E ele resignado responde:
- Não dá mãe! Não posso.
- Mas meu filho, sempre há um jeito. Você pode ir para o interior, para a casa de seus avós.
- Não, não! Preciso levantar grana para poder curtir meu barato. Esquece! Hoje vai ser a lança da minha vida.
- Filho é muito arriscado, você pode ser preso ou até morrer. Por favor, esqueça isso! Ouça o meu conselho.
- É tarde! Não dá mais para arregar.
Sua mãe em tom de súplica implora e desabafa:
- Meu filho, sonhei para você um futuro brilhante, que se tornasse um doutor. Não que se tornasse nisso. Nunca imaginei para você essa vida. Sempre disse para se afastar das más companhias e nunca experimentar drogas. Olha à tua volta e vê, seus amigos, a maioria já morreu ou estão presos. Por favor! Me ouça.
- É minha sina! Não quero mais conversar. Depois de hoje vou me tornar gerente.
Um silêncio tomou conta do ambiente. Mãe e filho se olharam, sem nada dizer um ao outro, como se aquele olhar profundo estivesse dizendo tudo. Antes que saísse ela lhe disse aquilo que todas as mães dizem quando os filhos saem:
- Se cuida meu filho, tome cuidado, a comunidade está sendo monitorada e você pode se dar mal. Vá, vá com Deus.
- Fique tranquila, eu volto logo.
Um olhar, um adeus...
Quando ele chegou ao local da entrega, estranhou que havia muito silêncio. Aquilo não era normal. O galpão abandonado estava abandonado mesmo. Mesmo assim ele entrou, sentiu um calafrio, e de repente ouviu alguém:
- E aí! Trouxe a mercadoria.
E ele respondeu:
- Quem é você, por que não mostra o seu rosto. Como vou saber se é a pessoa certa?
- Fique parado aí, preciso me certificar se veio sozinho.
- Claro que sim, não foi o combinado?
- É que tem muito lobo por aí, preciso ter certeza.
Chapadinho ficou gelado, a respiração acelerou. Uma sensação de pânico tomou conta de sua mente, e desesperado gritou:
- Apareça logo, e assim eu vou embora. A mercadoria está aqui. Entregue a sua parte do negócio.
De repente, um barulho rompe o silêncio do ar. Ficou apenas um corpo estendido no chão. Depois de algum tempo, fotógrafos e policiais enchem o lugar. Morre Chapadinho, sem nunca ficar conhecido o seu algoz.
Essa era para ser uma história alegre, com final feliz, mas infelizmente é mais uma daquelas que têm acontecido todos os dias. Histórias de meninos e meninas que deixam seus sonhos, seduzidos pelo lobo devorador das drogas. Que devora a infância, a adolescência, a juventude e a vida. Seduz meninos que abandonam a escola e a família pelo simples prazer momentâneo das substâncias alucinógenas.
O lobo aparece nos campinhos, na porta da escola, nas baladas, onde você menos espera; e quando menos se espera devora para sempre personagens, que viram estatística policial. A história do Chapadinho é parecida com milhares de histórias. Bom seria se o caçador das fábulas aparecesse e a tempo os livrasse das garras do devorador. Bom seria se as histórias dos nossos meninos sempre tivesse final feliz, e que a vida triunfasse no final.

Autor: José Geraldo da Silva



quarta-feira, 1 de maio de 2013

ENCANTO




Faróis que iluminam o caminho
Dos náufragos perdidos
Depois de tempestades avassaladoras
Que deixam marcas nos feridos
Que apagam o brilho das estrelas
As joias que decoram o mapa dos navegantes
Brisa suave que faz o cansado repousar
Depois de batalhas delirantes
Que matam os sonhos juvenis
Que esfria o calor do meio dia
A força que revigora os amantes
Essência que purifica o ar
Depois de torturosas explosões
Que tiram a pureza infantil
Que barram as lágrimas do céu
Aquelas que alimentam terras desejantes
Solo firme que sustenta as construções
Depois de terremotos assustadores
Que deixam corações aflitos
Que causam rupturas impedindo passagens
Aquelas que nos mostram o caminho
Para alcançar a tão sonhada felicidade
Assim são teus olhos,
Faróis cheios de encantos
Teu hálito, brisa que sopra
Carícias por todos os cantos
Do corpo todo ferido
Teu cheiro, a essência que traz
À vida o desejo
Que através do teu corpo,
Solo firme para receber carinho
E fazer da vida o meu encanto.

Autor: José Geraldo da Silva